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Salvação - Livre Sirène

Salvação

terça-feira, novembro 27, 2012

As melodias, que emanavam dos phones do iPod, alienavam a ruiva do mundo . Era apenas um corpo cuja alma vagueava pelas suas memórias, ao som de uma qualquer música de Rock'n'Roll. A sua caminhada acabou quando alcançou a paragem de autocarro. 
A pesada mala de viagem caiu no chão com um thump audível, e a rapariga sentou-se em cima dela, visivelmente cansada. Olhou em volta. Uma poça formada por chuvas do dia anterior reflectia a sua imagem: no topo da cabeça pousava um chapéu preto, redondo, que emoldurava o cabelo meio ondulado que escorria até à cintura e que roçava na saia preta rodada que trazia, que por sua vez acabava nos joelhos para dar lugar a uns collants da mesma cor; envergava um top branco com aplicações de tachas pretas, coberto por um casaco de cabedal. O seu cabelo parecia alternar entre o vermelho e o alaranjado, devido às variações de luminosidade provocadas pelas nuvens passageiras, mas a verdade é que a cor se destacava em relação ao resto, o que lhe merecia olhares prolongados por parte de estranhos.
Os seus olhos demonstravam preocupação, cansaço. Pareciam não pertencer a uma cara tão jovem. As memórias dançavam praticamente em frente a seus olhos, cujo brilho parecia instável. 
Sons de loiça a partir, discussões, lâminas e cenas de violência ocupavam a sua mente agora, a música desvanecera.
Estava em transe. Despertou apenas com o som de uma buzina de autocarro - era o seu. Piscou os olhos repetidamente para secar possiveis lágrimas. Entrou.
Escolheu um lugar chegado para trás, e sentou-se no habitual lugar à janela, a sua mala guardada no porão. Tentou abstrair-se, escrever, mas apenas a música tinha efeito. Deixou-se embalar pela voz dos seus cantores preferidos enquanto a paisagem passava diante dos seus olhos como um qualquer slideshow.

Ao sair do veículo, limpou a roupa de possíveis pós ou partículas e analisou o meio envolvente. 
Houve um breve momento em que fixou o olhar num rapaz que se encontrava a 10 passos de si, antes de largar a sua mala no chão e correr para ele. O rapaz soletrou algo com os seus lábios, desprovido de som antes de envolver a viajante num abraço apertado, afagando-lhe o longo cabelo. 
A rapariga derramou uma ou duas lágrimas silenciosas, apertando o tecido da camisola do outro, como se quisesse verificar que ele era real. 
Agora que chegara até ele, estaria em segurança. Agora que ela chegara, ele seria feliz. Completar-se-iam, apoiar-se-iam e nunca mais teriam de sofrer sozinhos. Deram as mãos, sentimentos de protecção e ansiedade à flor da pele, 

"Obrigada por me salvares." proferiu a ruiva, olhando o rapaz nos seus olhos esverdeados. Em resposta, o rapaz beijou-lhe a testa e ofereceu-lhe um sorriso triste.

"Tive motivos egoístas."

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Sai uma short(story)! Não estava á espera deste desfecho, aliás não tinha pensado em nada de parecido, mas foi a direcção que a história tomou. 
Entretanto, escrever para o Nano é mentira.
Nota importante: estas shorts são apenas instâncias singulares. Visto eu ter muitas ideias e pouca paciência para manter uma narrativa muito extensa, esta parece-me uma boa forma de abordar a inspiração, enquanto dura.

P.S.: Não é sobre violência doméstica, okay?

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2 comentários

  1. destacava em relação ou resto*
    ao* resto faxabori! Só para te dizer que estou atenta!

    Coisa 'mai linda! xD
    parece que tive um deja vu e que te vi a ti na paragem do autocarro!

    Deixa lá correr essas instâncias... :D cá ficarei à espera para mais!
    Quanto ao nano... pois... mentirosaa :P força nisso!

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  2. opá! isso é um erro recorrente meu, nem faz sentido! xD
    ahahahh isso é porque tudo isto derivou de eu estar de WAIS na mão, na paragem de autocarro.

    sim sim miga, sim sim.

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