A Beleza, como a Dove a pinta.

quinta-feira, outubro 08, 2015


Olá queridos!
Então e estas campanhas da Real Beauty da Dove?
São muito giras sim senhora, mas a realidade é que não são inclusivas, e isso é cada vez mais importante.

 Vocês vão dizer, "Mas Nessie, o video tem pessoas de várias raças", ah! Mas nem tudo se resume a inclusão racial. Tive um debate construtivo sobre isto com um amigo meu: eu argumentei que cada vez mais é importante incluir pessoas Trans - seja qual for o estado de transição em que se encontram - , pessoas com deficiências motoras ou genéticas ou cognitivas, pessoas gordas mesmo gordas, pessoas magras mesmo magras, nestes anúncios. Já ele argumentou que pessoas trans ia cair mal aos conservadores, o que não é mentira. Mas que se danem os conservadores!


 A publicidade e os media são a maior plataforma de acção social que temos ao nosso dispor. A publicidade diz-nos quem podemos ser. E, ao mostrarmos pessoas cis (ou seja, neste caso mulheres que se identificam com o género que lhes foi atribuído à nascença), que têm corpos virtualmente perfeitos estamos a publicitar um produto que não é inclusivo. 
 Virtualmente perfeitos porquê, se até mostram uma africana(afro-americana?) assim mais para o plus size num dos anúncios da campanha? Porque são mulheres com formas de mulheres - curvas, peito, rabinho. Todas elas. Não se vê uma única mulher que tenha alguma deficiência motora, algum síndrome que lhe afecte o desenvolvimento físico-motor ou psicológico, e mesmo a mais gordinha não é tão gordinha assim.
 Estes anúncios falam de mulheres genéricas, muito bonitas, sim senhor, mas que não representam uma pool de sequer 50% das diferentes mulheres à face do planeta.

 A Dove afirma ainda, algures no site, que apenas 4% das mulheres se consideram bonitas (ou algo parecido). Opá. Que raio de amostra têm eles? Poupem-me o espírito. 

 Primeiramente, e como tudo o que dá discussão neste mundo, a beleza superficial, e como esta se insere na sociedade, não passa de um conceito ocidental, de "primeiro mundo". E é algo que muda de cultura para cultura, do este ao oeste. Existe um conceito de beleza em todas as culturas, mas sou da opinião que graças ao Ocidente é que criámos esta noção superficial de beleza. Por exemplo, antigamente considerava-se atraentes mulheres de ancas largas, mas havia um propósito: serem boas parideiras. Através dos tempos e culturas apanhamos vários momentos em que um certo traço físico era ligado a um traço social ou emocional ou financeiro desejado. E era mais do que "aquela miúda tem uma mala da Michael Kors, deve ser rica".
 Segundamente, esta campanha falha redondamente no seu propósito de construir uma auto-estima nas mulheres. Tenta e falha. Sim, mulheres brancas, cis e de classe média vão achar que é uma óptima campanha, pelo menos à superfície - eu também pensava o mesmo, antes de aprender que o mundo não é como eu o percepciono.
 Não há nada que a mulher privilegiada goste mais do que uma palmadinha no ombro por ser tão socialmente justa.

 No final de contas o que é que eu quero...Quero anúncios que mostrem os mais diversos tipos de mulheres: mulheres com trissomia 21 (para dar exemplo de um síndrome), mulheres amputadas, mulheres aborígenes, mulheres de diferentes religiões, graus sociais, identidades de género, com doenças raras que lhes afectam o corpo... Porque "real beauty" têm todas: pelo que fazem, lutam, atingem, representam. Nem tudo se resume a carinhas larocas e sorrisos pepsodente. 

 E sim, eu sou vaidosa, uso maquilhagem, sou magra (q.b.), branquela e tenho um emprego estável. Não consumo Dove activamente embora possa comprar um produto ou outro de vez em quando. 
Mas não é por eu estar bem que me identifico com um produto que não se identifica com todas as mulheres.

Nessie,

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5 comentários

  1. Concordo plenamente. Mas a verdade é que, no final do dia, isto é um anúncio. Isto é uma campanha para nos levar a consumir os produtos Dove. Por isso, eles têm de chegar às pessoas que são mais propensas a consumir os seus produtos: mulheres de classe média. Logo, as modelos terão de ser escolhidas de maneira a que as mulheres "alvo" se identifiquem com estas. Como as restantes talvez sejam uma minoria, presumo que a Dove não ache que isso valha a pena num sentido de chegar ao consumidor. É triste, mas é assim que eu acredito que eles pensam. Apesar de tudo, muitos parabéns pelas tuas palavras. Beijinho,
    neptunesecrets.blogspot.pt // facebook

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    1. muito obrigada pelo comentário! :) Quiçá um dia haja inclusão xx

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  2. Também não percebo esse conceito de real beauty... A intenção é boa (um combate à ditadura da magreza, ao uso excessivo de Photoshop), mas acaba por excluir as mulheres naturalmente magras/deslumbrantes/esculturais.

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    1. tal e qual! Mas tenho fé que um dia a coisa muda :) xx

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  3. Para ser válido era ser puro. A pureza das coisas há muito que foi perdida. Se a própria sociedade não é genuína os anúncios publicitários também não podem ser.

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