[Writing Wednesday #1] Personagens Femininas: como entendidas por uma moça de 21 anos (2/3)

quarta-feira, setembro 25, 2013

Bom, deixei-vos ontem com a noticia mais mind-blowing do século (As mulheres são pessoas - a sério, who would've guessed, aye?). Passemos ao próximo ponto!



2. Arquétipos de heroína, aparência e personalidade

Não sei porquê, mas quando se fala em personagens femininas fortes/heroínas sai sempre a descrição igual (pensem lá no que para vocês é uma mulher forte e depois leiam isto e isto!). E, sim, quantas personagens que adoro não caem dentro do estereótipo? (resposta, umas 4, maybe) O segundo artigo explica muito bem o meu ponto de vista:
No one ever asks if a male character is “strong”. Nor if he’s “feisty,” or “kick-ass” come to that. 
The obvious thing to say here is that this is because he’s assumed to be “strong” by default. Part of the patronising promise of the Strong Female Character is that she’s anomalous.
Oh meu deus. Respiremos antes de comentar por que é que isto acerta em todos os pontos possíveis.
agradecimento especial à Cláudia pelo artigo.

Este tipo de personagem é o pior. Mas o pior. Pressupõe que é uma qualidade única a força da personagem. Porque naturalmente as mulheres não são duras de roer! (Ahahah, alguma vez conheceram uma mulher daqueles signos lixados?) Ao passar a força como a qualidade/característica da personagem está, não só, a criar uma personagem vazia e uni-dimensional como a enraivecer feministas a torto e a direito. Do not. A força deve ser como a visão: uns têm mais que outros, mas todos a possuem (menos os ceguinhos oops sorry). Ou seja, não deve ser uma anomalia que suscite entusiasmo. Porque, de facto, não o é.

Existem outros arquétipos populares, mas o que quero focar é outra coisa: pensem na mulher real que idolatram (nada de “ai a Buffy Summers é o meu ídolo!”).

Será que cai estritamente dentro de um molde popular

Provavelmente não, porque as pessoas são multi-dimensionais. As personagens podem sê-lo também! Porque não uma heroína que adora matar bad-guys num vestido fofo, cor-de-rosa, como pompons ou rendinha enquanto ouve Marilyn Mason, a caminho do seu part-time numa qualquer livraria? Reparem – é uma personagem girly, com gosto musical que pode ou não revelar uma faceta mais sombria, que se sustenta, provavelmente apresenta características mais violentas e capacidade física. Não? Este é uma ideia que acho particularmente cómica. Mas deixem-me dizer ainda: para uma personagem feminina ser forte e independente não tem de andar de machado em mão a cortar cabeças. Não. Existem vários métodos e características que podem entrar em jogo: inteligência, estratégia, manipulação, até recursos monetários se estivermos a escrever algo como um Iron Man ou Batman femininos.


Por outro lado, para uma personagem utilizar a sua inteligência ou instinto manipulador, ou mesmo para andar de machado em punho, não tem de ser uma deusa Afrodite
Okay? Okay

De facto, escrever personagens femininas cuja aparência é o seu único traço identificativo e que a leva pela narrativa fora é o passo um para uma personagem não relacionável. Eu sei, a tentação de escrevermos personagens lindas e sexy é tanta, mas temos de nos lembrar que na vida real se calhar uma mulher com medidas perfeitas não é assim tão normal – e a objectificação da mulher é um problema sério que cria obstáculos à escrita. Já agora, o que faz uma personagem sexy, se for isso que querem, é a confiança que tem e como ela owns her body. Não encontro expressão melhor.

Não é bom ter uma personagem cuja aparência é forçada, não se insere no contexto ou cujas acções e aparência não são coerentes entre si. Agora imaginem uma Katniss Everdeen com uma copa DD, pele perfeita e unhas arranjadíssimas. Não se insere no mundo do Districto 12, certo? Certo. 

E, mais importante, a beleza não segue um molde inflexível, sabem aquelas pessoas que olhamos e pensamos “woah, ela é bonita de uma forma tão diferente do normal”, isso também pode acontecer nos livros sem haver objetificação ou sexualização da personagem.

Outro ponto importante que se liga aqui é a forma como ela sente, como ela age e como ela reage. Tem de se ter a especial atenção em não construir uma personagem “assim” só porque sim, porque queremos uma personagem X ou Y. A forma como ela inter/age faz sentido, dado o seu passado? Tendo em conta a sua cultura e a sua predisposição para ser a rebelde ou não, faz sentido a personagem agir como agiu? E em relação à religião vigorante no seu país/mundo/cultura? Como é que o seu background influenciou o seu carácter? É importante (tenho a sensação de estar a repetir a palavra importante a lot) lembrar-nos que um antagonista não é feito de defeitos, e um protagonista não é feito de coisas boas, gatinhos e arco-íris.
A aparência (que vai da forma física, por assim dizer, à forma como as personagens se vestem e a forma como se movem) está, geralmente, ligada às suas emoções, capacidades e background. Façam com que este ponto conte, não sejam preguiçosos (i.e. antagonista é sexy e protagonista é fofa [x])!

Sub-tópico: Atenção ao detalhe

Este foi um ponto que encontrei em comum entre diversos artigos que li. A mulher, normalmente, apresenta uma maior atenção ao detalhe do que uma personagem tipicamente masculina. É daquelas características que associamos às mulheres num estalar de dedos. No entanto, nem todas as mulheres são assim – eu conheço umas quantas, tipo eu.


Mais uma vez, acho que vai da razão pela qual a personagem o faz. Exemplo: As personagens mais fúteis ou ligadas à moda ou detectives, ou aquela rapariga popular da escola que – na verdade – ninguém gosta muito mas atura na mesma, vão fazer uso desta capacidade. Se calhar a “mera comum rapariga nerd que adora videojogos” não se vai interessar pelo detalhe de uma saia ou saltos altos, no entanto se lhe puserem um jogo à frente é capaz de enumerar 50 factos sobre a sua estrutura, just like that (imaginem que estalei os dedos, okay?).  A atenção ao detalhe não é uma característica geral que engloba tudo e que é comum a todo o ser XX.

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Tune in tomorrow for the season finale!

Parte 1Women Are People Too!
Parte 3: Agência e Motivação!

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3 comentários

  1. Nem vais acreditar!! Hoje em Avaliação Psicológica em Contexto de Carreira demos a definição de agência. Pensei logo em ti... e fiquei -.-' 'bem que podias ter dado isso na semana passada assim não fazia figura de (muito) ignorante' :P enfim!

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  2. Ao ler esta parte II do artigo, só me lembro de que as coisas podem ainda ser piores quando são mulheres a escreverem personagens femininas pior do que autores masculinos o fariam.Geralmente quando elas são muito más, tira-me do sério.

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  3. Ivonne: see? :P
    Claúdia: o engraçado é que nem é muito difícil a uma mulher escrever mal uma personagem feminina - pode-se dizer que não cria muita distanciação entre si e a personagem e há sempre o perigo de transportar ou depositar nela desejos próprios. O que a ela parece normal, uma personagem boa talvez, mas a nós que estamos fora da cabeça da escritora, difícil de compreender e vazio. Acho eu :P Felizmente cada vez há mais autores masculinos a escreverem melhores personagens femininas! Mas lá está, não podemos esquecer as próprias mulheres.

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