Ligações Emocionais

terça-feira, março 26, 2013

Trigger Warning: Self-harm
(de certo modo?)


Este ultimo fim-de-semana, uma das bandas que mais me ajudou durante a adolescência acabou: Os My Chemical Romance.
Mas não estou aqui para falar deles, mas sim do impacto que eles, como outros, têm e tiveram na vida de milhões. Vamos falar de Ligações Emocionais a pessoas famosas!

O cenário parte sempre de uma permissa básica: no meio de toda a confusão que é a vida de uma pessoa (normalmente adolescente), e de todos os problemas emocionais e de auto-estima, aparece uma luz ao fundo do tunél. Alguém, ou um conjunto de individuos, com uma mensagem positiva que nos toca cá dentro e nos inspira a viver. Cria-se uma ligação, olhamos para essa(s) pessoa(s) como exemplos/inspirações (role models).

A ligação pode estancar aí.
Como é o meu caso: admiro imensos artistas que lutaram contra anxiedade, bulimia, depressão, etc., mas não deixo que se tornem a minha “life line”, que fique tão dependente ao ponto de perder o sono ou ter alterações extremas de humor graças a eles. (bem…okay ando um bocado over the moon com os youtubers agora, mas sei distinguir as coisas, não pensem. Todo o meu choro por não os ter conhecido ainda, não é mais que birra.)
A ligação estabelecida ajuda-nos a lembrar o que há de bom na vida. Exemplo: quando deprimo (and I’m talking seriously here, às vezes preocupo-me se não deva ir ao psicologo), procuro por músicas das pessoas que me inspiram (ex.: Therapy dos All Time Low, Famous Last Words dos MCR – uma das músicas que me acompanhou na pior altura da minha vida) ou, mais recentemente, vejo videos do danisnotonfire ou do amazingphil (que são pessoas que lidaram com os mesmos problemas que eu, são tipo “areia da mesma camionete”, relatable). E isso tudo ajuda. Ajuda a manter-nos à tona da realidade. Mas não é tóxico porque percebemos que a realidade é mais que isso.
Retomando o exemplo dos MCR – Imensas pessoas da minha geração sentem algum tipo de saudade, nostalgia ou dor com a noticia. Mas percebemos o bem que as ideias deles nos trouxeram e guardamos isso connosco.

Mas quando a ligação se torna tóxica…
Claro que sim, a ligação pode tornar-se tóxica – e é aí que quero chegar. Existem pessoas com problemas emocionais tão graves que ao admirarem alguém tornam-se dependentes da sua existência e aprovação (imaginária). Por exemplo, já vi raparigas que sofrem de depressão a comentar o quão desapontado(s) X/Y estariam nelas se soubessem que mais uma vez tinham cedido à lamina. Que não eram dignas de ser fãs. As pessoas que ainda dependiam dos My Chemical Romance voltaram a cortar-se pela banda ter acabado, até há rumores de suícidios. A ligação não só se tornou tóxica como também descreveu um circulo completo até ao estádio de depressão inicial (pré mensagem inspiradora).
Isto é triste por várias razões. As mais gerais:
  1. 1.       Se a mensagem é anti auto-mutilação, não significa que X ou Y vão ficar desapontados por se auto-mutilarem. Significa que eles querem que vocês sejam felizes, que tentem ver o que há para lá disso.
  2. 2.       Se a mensagem é ser feliz, não é por chorarem que X ou Y vão escorraçar-vos. Significa que eles se preocupam com o facto de tanta gente se sentir miserável e desejam que de alguma forma as pessoas sejam felizes.
  3. 3.       X/Y não SÃO a mensagem.

Pegando na 3 - este tipo de pessoa fica vidrado, na minha opinião, na ideia de que existe alguém que mostra o seu amor publicamente por pessoas que estão a passar por um determinado problema. Pela compaixão e compreensão que mostram. E ao ligarem-se a essa ideia, a verdadeira mensagem passa-lhes ao lado.
É como um ciclo vicioso, mas a nível psicológico: descobrir mensagem de X, X mostra um nível de compaixão superior àquele a que a pessoa percepciona no seu dia-a-dia, pessoa cria ligação tóxica à ideia de X, pessoa tem dia mau, pessoa sente que desapontou tudo e todos – em especial X - , sente-se pior ainda, re-descobre mensagem de X (…)

E não há muitas maneiras de quebrar crenças pessoais. E estas, em específico ,são ainda piores porque pertencem a pessoas com dificuldades em acreditar que existe quem realmente goste deles, em acreditar que tudo melhora eventualmente.

Acho que o que eu quero que se perceba é que: As pessoas são passageiras, mas as ideias não. Não criem ligações tóxicas, ouçam a mensagem, liguem-se à ideia. Acreditem.

P.S.: Ainda estou em processamento do fim da banda, não estou triste nem contente? Estou naquela fase que a tristeza dos outros me entristece.
P.P.S.: Não era um post completo se não mencionasse youtubers, né?

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